(Histórias para relembrar: Falo sobre a I Feira Soja-Brasil no artigo abaixo, quando alguns 'governantes' tentaram me "estrupiar" no MT, sem consegui-lo.)
Quando os meios justificam os fins
A Gazeta – Cuiabá MT – Domingo, 20 de
Dezembro de 1992.
Por: Webert Machado
A
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prendi,
na minha passagem pelo X Ciclo de Política e Estratégia Nacional da ADESG –
Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, em 1.989, que o poder
de uma nação se divide em quatro grupos distintos: o poder político, o poder
militar, o poder econômico e o poder psicossocial. E em qualquer uma dessas
quatro expressões de poder deve-se destacar claramente que o poder se concentra
num grupo ao surgir a consciência de seus interesses e a vontade de
satisfazê-los. O grupo gera, então, um poder comum, coletivo ou grupal,
integrado de vontades e de meios provenientes de todos os seus componentes
individuais. Ressalte-se também que o dinamismo da ordem social deve ser
orientado segundo o critério do bem comum, competindo às elites essa tarefa,
por um processo de interação com os demais segmentos da sociedade, harmonizando
esses interesses da sociedade com os interesses nacionais e o bem comum.
Não estou aqui discutindo critérios de
dissolução ou de confronto a quem quer que seja, cabendo ressaltar e ressalvar
a ética, que se faz necessária para separar doutrina e ideologia. Mas estou
aqui a explanar que o bem comum, para ser atingido, embasa-se também nos
critérios do caráter de integralidade do poder nacional, resultante da
aglutinação de todos os meios de que dispõe a Nação, o que é mais do que a
simples soma dos elementos: é a resultante de uma composição em que todos os
elementos se inter-condicionam, se interligam e se completam, gerando, no processo,
novas forças, que não estão nos indivíduos nem nos grupos primários e secundários, mas despontam no todo.
Vale lembrar, a respeito, a lição de
Bertrand Russel: “O poder deve ser considerado como algo que passa de uma de
suas formas para qualquer outra, sendo que a Ciência deveria empenhar-se em
descobrir as leis de tais transformações. Tentar isolar qualquer uma das formas
de poder – e, de modo especial, em nossos dias, a forma econômica – tem sido, e
ainda é, uma fonte de erros de grande importância prática.”
Em suma, o poder nacional deve ser
compreendido como resultado de uma
integração de meios que age como um todo, não obstante atuar, segundo as
circunstâncias, com prevalência de qualquer uma de suas dimensões. (Doutrina da
ESG – 1989).
E essa ruptura de interesses comuns, que
objetivam, portanto, os fins – o desenvolvimento econômico, o fortalecimento
institucional e econômico, a evolução técnico-científica-tecnológica e o
crescimento do agrobusiness do Mato Grosso – acontecem, não de maneira
sistêmica, mas de forma descontinuada e despropositada.
Mas que fins eram esses: Eram complexos,
são pertinentes e são decididamente duradouros: realizar-se aqui, no Mato
Grosso, eventos de magnitude incontestável, de profundidade psicossocial
imensurável e de fortalecimento político-institucional indiscutível. Afinal de
contas, os fins se auto-justificam: o desenvolvimento do setor primário do Mato
Grosso. E esses objetivos nos impulsionaram a realizar a I Feira Soja-Brasil - Feira de Soja e Derivados e o I Congresso Mato-grossense de Produtividade
e Qualidade da Soja.
Numa integralidade de poderes, somaram-se
esforços para a efetiva realização dos eventos. Uniram-se forças. Uniram-se o
poder político e o poder econômico.
Mas, o que é o poder econômico, senão
busca de lucros? O poder econômico é muito mais que isso. Ele é parte
integrante também da dinâmica estrutural do poder psicossocial: a empresa, o hospital, a escola, a
igreja, o sindicato, a previdência e assistências sociais e os meios de
comunicação de massa. E muito mais: ela ocupa uma posição de relevo na
expressão psicossocial por ser a organização na qual o homem exerce a sua
capacidade produtiva e obtém os recursos necessários à sua sobrevivência. E
numa perspectiva mais ampla, deve-se estudar a empresa além de seus componentes
unicamente econômico. Não o fazer seria negligenciar outras facetas do
trabalho. Além disso, aspectos do relacionamento humano que muito valorizam a
convivência social e são, portanto, componentes indispensáveis à realização
integral do homem, ocorrem no seio da empresa.
Constituindo-se em unidade produtiva de
bens e serviços que têm reflexo sobre toda a vida da comunidade e, além disso,
órgão onde se vinculam capital e trabalho, a empresa deve se ajustar à evolução
social para poder representar adequadamente o papel que a sociedade lhe reserva
como fator não de atrito, mas de
harmonia social.
E minha empresa vislumbrou esses aspectos,
acima do capital. Vislumbrou a evolução social, ao realizar os eventos,
partindo-se até da premissa incontestável de sua capacitação
técnico-profissional embasada numa “elite” de bons antecedentes profissionais
estampada na experiência de seu capitão-mor e presidente curricularmente
grifados e construídos.
Em minhas andanças pelo País pró-eventos,
detectei a enorme receptividade fecundada para os mesmos. Potencializou-se a realização
de eventos consubstanciados na liderança do Mato Grosso na sojicultura.
Empresas diversas se interessaram em aqui se instalar, fortalecimento eminente
da indústria primária para o Estado; profusão e divulgação da liderança
sojicultura do Mato Grosso se fez em nível nacional; profusão e divulgação
técnico-científica se concretizou literalmente pós-eventos; debates e estudos
de integração econômico-científicas se cristalizaram; negócios se concretizaram
e se proliferaram efetivamente; ciência e tecnologia se alinharam e estipularam
novas metas e objetivos para produtividade e qualidade sojicultora; cientistas
tiraram obstáculos de dúvidas e desconhecimentos e, principalmente, os eventos
aconteceram, numa vitória máster.
Eles foram os primeiros, apesar dos antagonismos diversos, numa prova
incontestável da capacidade dos poderes econômico e político realizarem a busca
do bem estar comum.
Mas as leis das imprevisibilidades jamais
poderiam imaginar a inesgotável capacidade que o País tem de nos assustar: um
processo doloroso de impeachment de
nossa instituição maior, a Presidência da República, que gerou a falta de
Finame/BNDES para o setor agrícola, a troca de ministro de Estado da
Agricultura e a incredulidade e o marasmo na definição dos caminhos que a
Nação, em todos os seus componentes e expressões, deveria seguir. E isso em
exatos 21 dias antecedentes aos eventos. E quem, em sã consciência e com real
discernimento, saberia prever e até enfrentar tamanho antagonismo?
Pós-eventos ressaltaram-se tão somente
enfoques negativos, até em um aproveitamento escuso de forças oponentes, que os
eventos geraram. Falta de visão da qualidade e importância dos mesmos. E restou
à minha empresa, apesar do positivo feito para o Mato Grosso, a
desestabilização, a falta de credibilidade e a incredulidade de que fatos de
convulsão social estavam e estão a ocorrer.
Restou à ela também o desamparo. Surgiu a
ruptura dos esforços realizados em
conjunto, que deixaram de ser conjunto
e passaram a ser antagônicos. Faltou o alicerce para a continuidade, apesar da
total ciência dos fatos que eram dados
consciente e responsavelmente aos meios que construíram os fins. Restou a
mim, idealizador e dirigente da empresa e de seus objetivos, a solidão de
propósitos. E que propósitos são esses? Propósitos de desenvolvimento,
progresso e bem estar social, pois, afinal de contas, o marketing é isso: é geração de desenvolvimento em todos os
sentidos.
Quiçá haja a compreensão do poder, que
também é político e da Nação. Estou aqui querendo corroborar o critério da integralidade dos três
poderes: o econômico, o político e o psicossocial, os quais se locupletam, se
completam, se inter-dependem, se inter-condicionam e se interligam, pois o
poder se concentra num grupo ao surgir a consciência de seus interesses e a
vontade de satisfazê-los. E os fins foram satisfeitos: o desenvolvimento
técnico-científico e econômico da maravilhosa sojicultura mato-grossense. E os
meios? Foram faltos, apesar da
importância dos fins. E os fins devem continuar, pois qual foi o fim que se
buscou com os eventos? Qual o fim que se busca com a realização dos eventos
futuros?: a harmonização dos interesses da sociedade com os interesses
nacionais e o bem comum.
E o caráter da integralidade dos poderes é
e deve ser sempre uma constante, pois os
meios justificam os fins e, inversamente, os fins justificam os meios.
Webert Machado,
publicitário e profissional de marketing,